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Em 2020 presenciei uma situação constrangedora para dizer o mínimo. Estava participando de uma oficina de escrita criativa quando a professora perguntou se todos havíamos feito o exercício da semana anterior.

Um dos alunos, vamos chamar de João, permaneceu em silêncio. A professora, com toda educação do mundo, repetiu a pergunta com um sorriso, dessa vez olhando para o silente João.

João, lacônico, respondeu que não havia feito porque estava com bloqueio de escritor.

A professora, por sua vez, aproveitou a oportunidade para falar sobre o tal bloqueio de escritor, discorreu longamente suas impressões ao longo de mais de vinte anos estudando e trabalhando com escrita criativa.

Não satisfeito, levando a questão para o lado pessoal, João se levantou arrastando a cadeira para trás e gritou que a professora não sabia de nada, já que ela não era nem escritora premiada.

O clima na sala, como você pode imaginar, ficou horrível. A professora conteve o choro com voz embargada, tentando manter o controle da situação. João lhe deu as costas e não voltou mais ao curso.

Tenho curiosidade em saber se João se desenvolveu, ganhou algum prêmio literário ou se continua com “bloqueio de escritor”.

A primeira regra da escrita é esta: bloqueio de escritor não existe!

Para escrever consistentemente, você deve acreditar como um princípio fundamental que escrever é uma questão de disciplina. Se você acreditar (ainda que parcialmente) que o tal bloqueio de escritor existe, você estará se preparando para o fracasso. O bloqueio de escritor nada mais é do que uma desculpa, baseada no medo, que o escritor guarda no bolso para usar sempre que lhe for conveniente. A desculpa lhe dá permissão para desistir assim que a escrita se tornar difícil.

Imagine que você vire para seu chefe e diga:

– Ah! Hoje não vou trabalhar porque estou com bloqueio de trabalhador.

Você pode imaginar o que seu chefe diria, não é?

Pois é. Com a escrita é a mesma coisa! Escrever é um trabalho, e, como todo trabalho, exige disciplina. É claro que é um trabalho diferente, trabalho artístico, mas não deixa de ser um trabalho. O tal bloqueio talvez seja a face oposta da inspiração. Tem gente que imagina só ser capaz de escrever sob a influência da inspiração. Existe inspiração? Isso é tema para outro artigo. Fiquemos apenas com a clássica frase atribuída ao inventor Thomas Edison sobre o tema:

“A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração”.

Voltemos ao “bloqueio”.

Se você quer mesmo trabalhar com a escrita, não tenha medo de escrever. Encare a tela do computador ou o papel em branco com alegria. Não coloque muita pressão no seu primeiro rascunho. O primeiro rascunho é só e somente só isto: o primeiro rascunho! Você poderá retrabalhar o seu texto quantas vezes quiser. Então, por que exigir perfeição na primeira versão de seu texto?

Sim, é preciso coragem para compartilhar suas histórias e ideias. As pessoas podem entender errado, podem discordar. Clicar em “publicar” torna você um alvo fácil para ser criticado. Acredite: certo ou errado, você será criticado pelo que fizer. Não tenha medo disso.

Cada escritor deve decidir por conta própria se a exposição vale a pena. Para mim, uma das atividades mais prazerosas é clicar em “publicar” para que uma ideia com a qual eu tenha lutado em silêncio por horas ganhe o mundo.

Algumas semanas atrás, minha esposa Barbara e eu fizemos um passeio em uma praça de nosso bairro. Logo que chegamos na praça, Barbara foi em direção a uma mulher que eu não conhecia, a abraçou e beijou. Virando-se para mim, minha esposa disse

– Essa é a Fulana, ela trabalha comigo. Esse é meu marido John, ele é escritor.

Ouvir minha própria esposa me chamar de escritor fez meu coração bater mais forte. Se ela acredita em mim, por que eu mesmo não devo acreditar?

Siga escrevendo, acredite em seu trabalho, e boa sorte!

Gostou desse texto? Tem mais um monte de conteúdo útil para você aqui no blog. Ah! E compartilhe com seu amigo escritor, vai que ele esteja precisando dessa injeção de ânimo. 🙂