Adeus, Ziraldo!

“Ler é mais importante que estudar!” Diria Ziraldo Alves Pinto, ou simplesmente Ziraldo. O escritor, cartunista, desenhista, pintor e dramaturgo brasileiro faleceu neste final de semana mas deixou um legado indelével na cultura nacional.

Criador e criatura. Fonte: Planalto.gov

Falar de um escritor do calibre de Ziraldo é entrar em um campo cheio de margaridas em busca de uma… margarida. Tudo parece importante demais para deixar de fora. Toda a sua trajetória é irretocável e sua participação nas memórias infantis é infinita. Pensando nisso – e escolhendo a minha margarida, afinal – selecionei duas memórias particulares para dar adeus ao grande mestre.

Como é a lua, Ziraldo? Ora, a lua é Flicts!

Quando eu tinha entre oito e nove anos, conheci Ziraldo na biblioteca da escola. Era um livro meio abandonado, talvez por ter sido lido por alguém que o escondeu, ou talvez por nunca ser a primeira escolha de nenhum dos meus amigos. Contudo, toda sexta-feira, fazíamos a bendita escolha dos livros que levaríamos para casa. Naquele dia, escolhi esse livro com a capa colorida e nome engraçado: flicts.

Poucos livros me trazem uma lembrança tão vívida quanto esse. O Flicts, aquela cor excluída, talvez inútil para todos, era, na verdade, grandiosa. Além disso, aquela lição era boa demais e eu reli a história pelo menos uma dezena de vezes. Afinal, hoje eu sei que buscava ser como o Flicts. Mais ainda, lembro-me de ver o rosto de um senhor de cabelos brancos ao final da história. Aquele autor simpático me cativava. E pense só, naquela época, eu ainda não sabia que seria escritora.

Ziraldo, o menino maluquinho, e o almoço da escola

À medida que crescia e ainda presa aos meus rituais escolares, desenvolvi um vício por certos programas de televisão. O almoço era sempre acompanhado deles, já que minhas aulas eram no período da tarde. Foi assim que, entre garfadas de arroz e feijão, me deparei com a série do Menino Maluquinho, que narrava sua trajetória desde a infância até a vida adulta. Era fascinante observar os detalhes do cotidiano, a interação com sua professora, seus amigos. E, após essa imersão, mergulhei no universo dos gibis e livros do Menino Maluquinho. Ziraldo continuava comigo em uma nova versão.

Uma parte para o todo

Compartilhar memórias pessoais tão específicas tem uma missão: permitir que, de uma parte, possamos contemplar o todo. De fato, o que pretendo aqui é fazer com que o Ziraldo que se revelou para mim na minha infância, que me fez rir e me emocionou, também seja o Ziraldo de inúmeras outras memórias e infâncias, repletas de singularidades e universos compartilhados. Tudo isso para perpetuar e honrar outros leitores e fãs deste artista inesquecível.

Nós, do Palavras Casmurras, cravamos: Eternamente, Ziraldo.

Ana Paula Bellot

Escritora carioca, amante dos clássicos e do estilo vintage. Autora de contos publicados em blogs, Amazon e dois livros: "O sangue nosso de cada dia – contos" (Independente) e "Cartas de quem vai e de quem fica" (Editora Penalux).

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