As crônicas do livro: O escritor, a escrita e a I.A | Uma reflexão para nosso tempo

Escritor, reflita: Se as crônicas de Nárnia transportam os leitores e seus personagens para um universo fantástico dentro de um guarda-roupa, imagine o que uma ferramenta de processamento de linguagem orientada por Inteligência Artificial (I.A) não é capaz de fazer por uma história, modelando textos e, até, livros inteiros.

Uma escritora japonesa, ganhadora do Prêmio Akutagawa por sua obra, admitiu que uma dessas ferramentas, o Chat GPT, a ajudou na construção de seu romance. A autora estipulou a porcentagem em “5%” e sua declaração questionou os limites invisíveis da escrita – antes da declaração da autora, ninguém fazia ideia de que o texto tinha esse tipo de alteração. Aliás, segundo o júri, a obra era “tão perfeita” que foi difícil achar algum defeito no livro!

O escritor e a máquina

Ser escritor em um mundo globalizado e cheio de tecnologia é tanto um desafio quanto uma dádiva. Victor Hugo, ao descrever as inúmeras ruas de Paris, temendo que leitores de outros locais não reconhecessem bem o local aonde sua Esmeralda dançava, não teria esse trabalho hoje em dia: bastariam alguns cliques no Google Imagens ou no Pinterest para estarmos na Paris medieval. Ao mesmo tempo, o autor de 2024 possui uma nova relação com as palavras e suas escolhas.

Até onde estamos explicando demais? O que o leitor sabe? E o que o escritor quer dizer? Questões universais, sim, mas que hoje, com o advento de tantas mídias imagéticas, se tornam uma das maiores pedras nos sapatos dos escritores.

Para muitos, a I.A é como um robô autônomo. O buraco é mais embaixo, escritor…

E a IA no meio disso tudo, escritor? Tal como outras ferramentas, a IA também pode ser utilizada para pesquisas, revisão textual e até para ajudar a fornecer informações precisas sobre o texto. A partir de prompts específicos, o autor pode treinar uma IA como o Chat GPT, por exemplo, e fazer com que ele imite seu jeito de escrever e… gere textos.

E a autoria? Bem, Barthes já discutiu a morte do escritor há um tempo. Digo que, na era digital, o escritor ressucitou pois é fato que hoje lê-se muito mais por quem escreve do que pelo quê se escreve. Apostam quanto que as vendas do livro da autora japonesa feito por I.A devem disparar?

Escritor, ainda há tempo de parar as máquinas?

Nenhuma dessas questões, porém, podem ser fechadas. O debate é novo mas, creio que o caminho jamais deve ser a demonização tecnológica ou seu endeusamento. Ferramentas são criadas, descartadas e usadas desde que a humanidade lapidou a primeira pedra. Busquemos, portanto, refletir em qual lugar as ferramentas de IA baseadas em linguagem natural devem estar na escrita, nos concursos, nas autorias e na vida de cada um.

Conheça nosso blog e assine nossa newsletter.

Ana Paula Bellot

Escritora carioca, amante dos clássicos e do estilo vintage. Autora de contos publicados em blogs, Amazon e dois livros: "O sangue nosso de cada dia – contos" (Independente) e "Cartas de quem vai e de quem fica" (Editora Penalux).

Este post tem 2 comentários

  1. Luiz Antonio Aguiar

    Muito boas reflexões!!! Debate aberto, sem dúvida. Mas quem sabe isso estimule os autores a ousarem até onde nenhuma IA jamais chegou e de lá extrair suas obras? E não me refiro a ousadias estéticas, mas às entranhas de nossa humanidade.

  2. Mauro Azevedo

    Penso que a busca pelo equilíbrio entre a criação e a utilização da tecnologia deve ser contínua e estendida.

Deixe um comentário