Sexta-Livre | O sossego da desimportância | Crônica por Ana Paula Bellot

Como vocês já sabem, o blog Palavras Casmurras teve início com a proposta de trazer entrevistas, notícias e novidades literárias. No entanto, como falar de literatura sem incluir ele, o grande mestre, o texto literário? Pensando nisso, nós, os editores do blog (você pode conferir mais sobre nós aqui), criamos o espaço “Sexta-Livre”, onde vamos publicar, semanalmente, nossos textos, crônicas, contos e muito mais! Esperamos que apreciem essa jornada conosco e não deixe de comentar a sua opinião.

Vamos juntos!

Percebi que sou mais uma na multidão.

O sossego da desimportância

A Missa é um dos ritos mais importantes que adquiri para minha vida. Voltei à fé cristã em 2023 e não poderia começar 2024 sem participar da Solenidade de Maria, Mãe de Deus, que configura-se na primeira missa do ano, sempre dia 1º de janeiro. É engraçado pensar que voltei à fé cristã, pois a Igreja sempre esteve ao meu redor (meus pais são católicos e meu irmão é Padre. Este último, então, não há ligação maior). 

E mesmo quando eu era parte de outras religiões e crenças, nunca fui desrespeitada ou apressada para nada. Posso dizer, sem medo, que tive um encontro pessoal com Cristo e cheguei até ele com meus pés. A filha pródiga retornou ao lar, costumo brincar.

O rito da Missa é um dos mais importantes na vida cristã. Por isso, é dividido em vários momentos e conta com a participação dos cristãos, seja para leitura, seja para cantar ou recitar um salmo, seja para levar as ofertas. Para este último, fui designada para a bela missão de levar a âmbula até o altar (e até o meu irmão, vejam só vocês). E, para a minha surpresa, fui designada a ser a primeira da fila.

Não se enganem por essa escritora que vos escreve: até meus amigos caem nesse erro de julgar-me uma excelente e desavergonhada (no bom sentido) oradora. Mas, todas as vezes que sorri e sustentei uma apresentação, estava, por dentro, tremendo como um carioca na Rússia! Na minha apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso, eu tomei dois calmantes naturais para não pirar.

Isso sempre me incomodou. Encaro o nervosismo como algo natural, mas chegar nos níveis que eu cheguei era um pouco demais, eu pensava. E fiz terapia, consulta psiquiátrica, tratei e ainda trato crise de pânico e ansiedade. Mas sentia que tinha algo além.

E eu descobri.

Para cada momento em que temi falar, apresentar ou aparecer, eu temia o julgamento alheio. Mais ainda: temia ser notada. Mas aí, percebi que nesse temor, residia o mais alto ego que eu poderia ter. E comecei a me fazer perguntas: eu já vi diversas apresentações de trabalho de colegas na vida. De quantas me lembro? E na Missa? De quantas pessoas me lembro carregando objetos ou lendo? E no dia-a-dia? Pode ter uma ou duas situações engraçadas mas, e daí?

Encontrei minha resposta: meu nervosismo nada mais era do que vaidade.

Ao me colocar no lugar de absoluta desimportância, eu encontrei uma enorme paz em meu coração. Percebi que sou mais uma na multidão. Que podem lembrar de mim, caso ocorra alguma coisa mas que, na absoluta maioria das vezes, serei só mais uma a falar. Mais uma a apresentar. Mais uma a carregar a âmbula. E que bom! Pois, dentro desse sossego, posso parar de tentar interpretar papéis e deixar que o centro da minha ação não seja eu  e sim o que carrego, seja isso algo físico, como no caso da Missa, seja isso algo intelectual, como em uma faculdade.

Não há nada melhor do que ser desimportante.

Ana Paula Bellot

Escritora carioca, amante dos clássicos e do estilo vintage. Autora de contos publicados em blogs, Amazon e dois livros: "O sangue nosso de cada dia – contos" (Independente) e "Cartas de quem vai e de quem fica" (Editora Penalux).

Este post tem 6 comentários

  1. Simone

    Excelente, me identifiquei. Chama-se maturidade esse entendimento.

    1. Ana Paula Bellot

      Simone, a maturidade é um ingrediente poderoso em nossas vidas. Um abraço, querida!

  2. Erika Mourão

    Olá Ana , cada vez que abro o blog e leio atentamente cada mensagem postada por vocês fico mais encantada com o incrível universo que eu carinhosamente chamo de letrinhas magicas. Para compreender melhor a minha sensação pode traduzi-la da seguinte forma, tenho nas mãos uma caixinha de promessas que tenho certeza que em sua casa já existiu uma dessas.
    Mais uma vez esse blog falou comigo . Vou ler todas as postagens, comentar e indicar aos conhecidos porque vale muito a pena dedicar um tempinho do dia para se alimentar com cada palavra que vocês carinhosamente nos presenteiam.

    1. Ana Paula Bellot

      Erika, seu comentário é incrível e nos deixa orgulhosos! Muito obrigada por estar conosco. Sua leitura nos dá vida!

  3. Erika Mourão

    Ana , tentei me inscrever para receber posts novos mas não consegui concluir . Poderia por favor verificar ?Gostaria de saber se existe um e-mail para informações.
    Obrigada por fazerem minha mente criar asas e entender que posso e sou capaz de fazer voos mais altos .
    Parabéns do fundo do meu coração !!!

    1. John Soares Cunha

      Olá, querida amiga Erika! Tudo bem? Mais uma vez, ficamos muito felizes com sua interação. É isso que nos dá força e ânimo para continuarmos trabalhando para gerar valor para as pessoas. ❤️
      Sobre a inscrição, já inseri seu email em nossa lista para receber novas postagens. 🙂

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