Quem escreveu a Bíblia foi uma mulher, segundo Moacyr Scliar

Pelo menos isso é o que propõe o escritor Moacyr Scliar no romance A mulher que escreveu a Bíblia (Prêmio Jabuti 2000 de Melhor Romance).

O Autor

moacyr scliar sorrindo olhando para a frente com a mão direita na cabeça, foto cinza
Foto de Lisette Guerra. Fonte: Site oficial.

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), em 23 de março de 1937,  e cursou medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ingressando em 1955). Em 2003, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, e faleceu em janeiro de 2011, após um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC), aos 74 anos.

Ao longo de sua vida, Moacyr Scliar conciliou as carreiras de médico e de escritor, tendo produzido mais de 70 obras (!), entre crônicas, romances e contos, e colecionou prêmios literários, só o Jabuti foram 4 (1988, 1993, 2000 e 2009).

A Obra: A Mulher que Escreveu a Bíblia

Em A mulher que escreveu a Bíblia, o autor recria o cotidiano da corte do rei Salomão, o homem mais sábio do mundo, segundo a tradição bíblica. Contudo, o foco narrativo não está no rei, mas sim na tal mulher que escreveu a Bíblia.

capa do livro de moacyr scliar a mulher que escreveu a Bíblia

A aventura da protagonista é narrada em primeira pessoa e vai desde a época em que ela era apenas uma simples aldeã, filha do patriarca de uma aldeia no deserto, até o momento em que, transformada em esposa do rei, recebe a incumbência de escrever “um livro que seja a base da civilização”, nas palavras de Salomão.

A mulher espanta a todos, não só com sua habilidade de ler e escrever, numa época em que a atividade era restrita a pouquíssimas pessoas, sobretudo homens, mas também pela sua feiura. Feiura esta fundamental, “ao menos para o entendimento desta história”, como narra a personagem na frase que inicia suas aventuras.

mulher com roupa típica do oriente médio em um cenário desértico escrevendo em um livro usando uma pena, no fundo um camelo desfocado

A protagonista se descreve como uma mulher tão feia, mas tão feia que seria impossível qualquer homem se sentir atraído por ela, embora o corpo não fosse de todo desprezável.

Por isso, para escapar dos olhares de horror e de espanto, a personagem se torna uma eremita. “Em tempo parcial, mas eremita”.

Contudo, “ao contrário dos Eremitas habituais que apenas querem distância do resto da humanidade”, ela estava nas montanhas em busca de alguma coisa. “E quando a encontrei, logo soube que era aquilo o que procurava. Uma pedra”. Uma pequena pedra lisa, suave ao tato, em formato ovoide.

Essa pequena pedra se transformou na primeira experiência sexual da protagonista. Por muito tempo, na única, já que nem o próprio marido, o rei Salomão, conseguiu cumprir com suas obrigações. Tudo começa a mudar quando o rei descobre as habilidades intelectuais da mulher.

Contudo, ao contrário do que se possa imaginar, a linguagem da obra não cai na armadilha da erudição. Moacyr Scliar mescla, na medida certa para produzir humor, a linguagem bíblica com uma linguagem de baixo calão:

– Aproxima-te – disse ao pastorzinho. Ele se aproximou do trono. Olhava-me com tal assombro, com tal temor, que me deu uma vontade imensa de rir: qual é a tua, cara, toca fogo nos manuscritos depois fica aí te cagando de medo, qual é a tua.

Conclusão

Enfim, se você não conhece o escritor, fica aí o registro de uma excelente obra com pouco mais de 150 páginas (hoje isso é critério de escolha para muita gente, vai entender…), porta de entrada para o vasto, leve e bem humorado universo Scliano.

Boa leitura!

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John Soares Cunha

Bacharel em Direito por acaso, escritor por convicção✒️, John Soares Cunha é especialista em copywriting e escrita criativa, e ama falar de livros e literatura. Aqui ele transborda sua paixão pela arte das palavras.

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